Caros amigos,
logo abaixo, meu relato em "real time", tipo de vídeo virtual Go Pro (feito sem câmera, só na imaginação...) do percurso de cross que Wolverine e eu fizemos no Clube dos Cavaleiros em Rio Claro - SP, em junho de 2014. Dentro do possível, técnica e emoção misturados na proporção certa!
Abraços a todos e boa leitura,
Claudia.
Fotos: (C) Marco Lagazzi e Alisson Catulé
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Bem agora vou aproveitar o
intervalo de almoço de segunda-feira para relatar o cross do Wolverine de ontem
- enquanto o mesmo ainda está fresco em minha memória. Vai também como tipo de
presente de aniversário para o Caio, que queria ter ido, para ajudá-lo a se
preparar para a próxima.
O cross de Rio Claro é único por
estar localizado dentro de um bosque de eucaliptos. Não é possível galopar em
velocidade salvo por trechos curtos, há bastante subidas e descidas, e as
trilhas entre um obstáculo e outro nem sempre são evidentes. Mas é também muito
charmoso, e a temperatura agradável. Na série 0,90, a minha, foram aprox. 1.400
m a serem percorridos em 3.12.
Da largada, um pequeno aclive em
curva, com o número 01, uma vertical de troncos, surgindo depois da curva, é
legal alertar o cavalo para confirmar o salto. O Wolve não tem nenhum problema
com este, mas o Zac no ano passado deu um teco ali, talvez por desatenção ou
alguma sombra de árvore atrapalhando; foi ali também que o Guega rodou na prova
de cavalos novos ano passado (logo no número um!). A poucos metros, o número 02
em linha reta, uma positiva após uma depressão. O Wolve muito concentrado com o
saltinho morro acima não olha para frente, e está em rota de colisão direta com
uma árvore; resolvo não interferir para ele escolher o melhor jeito de desviar,
e ele vai para o lado certo (esquerda), depois de longos segundos de eu
pensando “ih, ferrou logo no segundo obstáculo”. “Desviando de árvores” já
havia sido o tema deste cross no treino de véspera. Na sequência, um longo
galope margeando o bosque e depois em curva à esquerda, começando uma descida
até o 03, o primeiro salto maiorzinho da categoria, uma paralela de troncos
cuja recepção é um pouco negativa. O salto não é problema, mas conforme o
previsto, ele quer embalar na descida e tomar as rédeas, com o problema sendo
que os saltos 04 e 05, paralela e vertical com três lances entre si ou quatro
em curva, vêm logo na sequência. Por isso, dou uma BOA controlada na rédea,
quase trotando, e só volto ao ritmo quando enxergo bem a linha reta entre os
dois obstáculos. Considerando que ainda não tenho muito “controle fino” nestas
horas, quatro lances em curva não é uma boa opção.
A linha aparece clarinha, e Wolve
não liga a mínima para o fato dos dois saltos estarem enviesados. Um dois três
já era, a dificuldade maior é novamente conseguir o controle e seguir para a
esquerda, tudo isso acontece em descida e tendo que procurar a trilha entre
eucaliptos. E na sequência já uma nova linha, a mais revisada e comentada entre
os cavaleiros do 0,90.
É assim: de um lado a cerca de outro o bosque de eucaliptos.
Logo antes, obstáculos das outras séries que fazem impossível uma abordagem em
linha reta vindo lá de trás - cada um tem que escolher seu próprio momento de
fazer a diagonal entre as árvores para abordar o salto, que é uma vertical
estreita de pneus, a três lances, se medidos reto, de uma vertical seca sobre
uma valeta, que dá uma impressão de buraco. Só que - entre pneus e vertical há
um grande eucalipto, a linha reta ideal representa um árvore no meio da testa,
o que o Wolve tentou fazer (felizmente sem sucesso) durante o treino. Então
surge uma curva, que resulta em quatro lances. No treino, eu e um monte de
gente saltávamos os pneus e éramos defletidos da vertical pela árvore,
resultando num desvio para a esquerda.
Mas durante um último
reconhecimento a pé de manhã, acho que encontrei a resposta: abordar os pneus
em diagonal de modo que a linha que aparece deixa a árvore à esquerda e a cerca
à direita. Sobra um túnel de onde a única saída é saltar a vertical. Fácil, mas
para isso ser possível a diagonal para os pneus fica tão curtinha que tem que
ser - de novo - quase a trote.
Hmmm, a explicação ficou
complicada ou quer que desenhe? Deu pra perceber que este era o obstáculo da
prova, né? Enfim, consegui fazer o que me propus: abordar os pneus por fora num
galopinho curto meio trotando, enxergar a lacuna entre eucalipto e cerca, e aí
a vertical já chegou. Wolve continuava tão entusiasmado que nem ousei pensar em
sugerir quatro lances, foi para três mesmo, a existência da valeta foi
solemente ignorada, e minha única dificuldade foi conseguir fazer a curva.
Depois destas duas linhas muito
técnicas, fiquei com a sensação de que já havia praticamente concluído a prova.
Uma verticalzinha no começo do galope morro acima, depois uma curva tipo slalom
entre árvores que cada um podia fazer onde queria para chegar no 09, uma porteirinha
verde claro, estreita porém bem marcada, um bom salto tipo balãozinho para
facilitar a curva para uma longa linha
10 ABC e 11, descidas e subidas. A combinação do 10 é um tipo de sunken road
com buraquinho na entrada, descida, positiva na subida, um lance e vertical de
tronco. Para alguns cavalos o um lance talvez tenha ficado meio longo, claro que para o Wolve não. Dá só um
pouco de trabalho controlá-lo na longa descida para o 11, um murinho na subida,
que ele quer muito ignorar e passa de qualquer jeito para entrar numa curva em
U para o 12, a água que é apenas uma passagem, mas havia deixado-o bastante
desconfiado no dia de ontem. O 13 é um bonito complexo de banqueta com buraco
na saída, nada demais, mas bem marcado e gostoso de saltar (bom para tirar
fotos também, pois o buraco faz o salto parecer maior do que é).
Dali, para a última linha, 14 A e B, que tem que ser abordada em diagonal
(trotando desviando de árvores...), negativa, um lance, positiva e depois três
ou quatro lances para a vertical 15 à direita. Aqui os três teriam entrado
fácil, mas desta vez preferi segurar para quatro para facilitar a curva para
descer até o 16, um último oxer novamente ao pé do morro. Para achá-lo é
preciso... achar uma trilha no meio dos eucaliptos. Dali, é só virar para a
direita e galopar para a linha de chegada. Não sei se já mencionei que era
preciso procurar o caminho no meio das árvores??
No todo, a sensação foi muito
boa, mas neste estágio de nossa evolução, o treino de sábado foi fundamental
para dar técnica e respostas para os testes feitos pelo percurso. No sábado,
minha sensação era de que levaríamos uma advertência por equitação perigosa a
qualquer momento, quicando morro abaixo e eu tentando retomar as rédeas,
enquanto árvores mal-educadas se atiravam à nossa frente a toda hora. Quer dizer, embora o “treino de véspera” não
seja uma prática corrente em outros países, e nem em nossas categorias
superiores, acho uma ótima ideia para todos que estão começando (pessoas e
cavalos), retornando ao esporte, e/ou que têm pouca chance de treinar cross. Em
que pese nosso calendário com tão poucas provas, e pouquíssimas pistas de cross
em atividade no país, seja para treinamentos, seja para competição. Com certeza
um dia quero chegar com o Wolve numa prova e pular tudo sem reconhecimento prévio - mas por enquanto
ainda não! Por ora cumpri minha meta, que era nossa estreia como conjunto no
nível 0,90, sendo que é nosso 2º. CCE
juntos e apenas o 3º. da carreira dele (ele havia feito um anterior com o nosso
amigo Rodrigo Bastos em 2011, e um só para reempistar comigo no nível 0,70, no
último mês de março). E por isso nem me importei com o excesso de tempo de 40
segundos, decorrente com certeza dos muitos trotinhos e galopinhos. Meu ponto
alto foram as duas linhas difíceis onde consegui manter o planejamento. O
resto, velocidade inclusive, vem com o tempo...
Obrigada a todos pela torcida e
pela leitura!
Abraços,
Claudia