CAVALOS ELEMENTAIS
Há cavalos que são como sinos, ressoando e
vibrando de energia a cada passo. Há outros – éguas, muitas vezes – que parecem
ondas, pulsando num ir e vir obediente a algum antiqüíssimo ciclo lunar.
Alguns cavalos são afilhados dos ares, e
seus nomes o demonstram – em quantos Trovões, Tufões, Tornados montamos pela
vida afora? E existem aqueles que parecem gerados numa tempestade elétrica,
trespassados pela corrente de mil raios, fascinantes como tantas criaturas
perigosas.
Há os cavalos que são brasas, fogo em repouso sob uma aparência plácida, pronto a avivar-se ao menor sopro de ar. E muitos apenas existem, nutrindo-se da terra onde pisam, quase como as árvores centenárias sob cujas sombras passam seus dias.
Nos potros, espelham-se as estações em
mutação: peludinhos no inverno, crescendo como bambus nas chuvas de primavera,
indolentes na adolescência do verão, refulgentes à luz dourada do outono.
Há cavalos suaves como a brisa dos bosques,
remetendo-nos em seu dorso a um chão macio de folhas secas, luz entrecortada de
galhos, aroma de eucaliptos. Há os que nos lançam num mergulho em água gelada
ao fim de um longo dia de um verão quente e seco, e outros que nos fazem soltar
o grito primordial dos nômades varando a planície.
Noites estreladas apaixonantes, madrugadas
multicoloridas em que tudo renasce, o sol a pino que almeja nos fundir à terra,
o horizonte nostálgico dos fins de tarde. Cavalos não precisam de pessoas para
serem tudo isso e muito mais – mas generosamente se tornam o ingresso ao
universo dos elementos e da natureza daqueles cavaleiros que sabem como, ao
mesmo tempo, pedir e permitir que o sejam.
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