sexta-feira, 21 de novembro de 2014

CAVALOS ELEMENTAIS

(Este é um texto escrito lá por 1998 ou algo assim, mas continua sendo um de meus favoritos, e a meu ver precisa constar em qualquer encarnação do blog dos Cavalos Entusiasmados...)



CAVALOS ELEMENTAIS



Há cavalos que são como sinos, ressoando e vibrando de energia a cada passo. Há outros – éguas, muitas vezes – que parecem ondas, pulsando num ir e vir obediente a algum antiqüíssimo ciclo lunar.

Alguns cavalos são afilhados dos ares, e seus nomes o demonstram – em quantos Trovões, Tufões, Tornados montamos pela vida afora? E existem aqueles que parecem gerados numa tempestade elétrica, trespassados pela corrente de mil raios, fascinantes como tantas criaturas perigosas. 

Há os cavalos que são brasas, fogo em repouso sob uma aparência plácida, pronto a avivar-se ao menor sopro de ar. E muitos apenas existem, nutrindo-se da terra onde pisam, quase como as árvores centenárias sob cujas sombras passam seus dias.

Nos potros, espelham-se as estações em mutação: peludinhos no inverno, crescendo como bambus nas chuvas de primavera, indolentes na adolescência do verão, refulgentes à luz dourada do outono.

Há cavalos suaves como a brisa dos bosques, remetendo-nos em seu dorso a um chão macio de folhas secas, luz entrecortada de galhos, aroma de eucaliptos. Há os que nos lançam num mergulho em água gelada ao fim de um longo dia de um verão quente e seco, e outros que nos fazem soltar o grito primordial dos nômades varando a planície.


Noites estreladas apaixonantes, madrugadas multicoloridas em que tudo renasce, o sol a pino que almeja nos fundir à terra, o horizonte nostálgico dos fins de tarde. Cavalos não precisam de pessoas para serem tudo isso e muito mais – mas generosamente se tornam o ingresso ao universo dos elementos e da natureza daqueles cavaleiros que sabem como, ao mesmo tempo, pedir e permitir que o sejam.

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